Ainda menina, quando mal acabara de aprender a me deslocar pelo espaço, na posição vertical, e a formar frases com mais de três ou quatro palavras, identificar os aromas e segui-los para absorvê-los mais de perto era para mim um momento lúdico de imensa satisfação. Havia o doce perfume da minha mãe no abraço matinal, havia outro, mais amadeirado, que deixava suas “pegadas” pelo corredor da casa e se despedia sob o batente da porta, quando o meu pai saia para trabalhar. Tinha também o cheiro aconchegante da pele negra de Nina, nossa cozinheira, quando me acomodava em seu colo para ouvir histórias vividas, e o sussurro rosa-laranja das mangas deitadas na fruteira, sobre a mesa da sala. Tantos perfumes espreitando por todos os cantos!
Mas quero falar agora do crepitante cântico do azeite aquecendo na panela, que ousado e sedutor, atravessava a porta da cozinha e passeava pela casa. É um aroma que, até hoje, se impregna em meus sentidos e me faz salivar como se em minha boca se tornasse presente seu sabor e sua textura. O azeite se instalou com tanta veemência em minha memória que, basta olhar seu límpido verde através da transparência de um vidro fechado, para que todas estas sensações se despertem em mim, como o sol que invade a janela e me afaga o rosto. Assim o azeite me toca a alma!
Se não uma rainha, a oliveira, consagrada à deusa Atena, fornecia as folhas que se trançavam e compunham as coroas sobre as cabeças dos atletas gregos, aos quais também era oferecido, como prêmio, o fino óleo extraído de seu fruto, a azeitona. A este óleo se deu o nome de azeite, pois se constitui no “sumo da azeitona” que, vem do árabe Az+zait.
Apesar de não haver uma data certa para o aparecimento das oliveiras, presume-se que tenham aparecido na região da Ásia Menor, na época do Paleolítico Superior. Já presente por todo o Crescente Fértil em 3.000 a .C, o cultivo das oliveiras se difundiu pela Europa graças aos gregos e romanos. Após espalhar-se pela bacia do Mediterrâneo, chegou às Américas através das expedições marítimas dos portugueses. O sol e clima seco são propícios ao seu plantio, e os frutos da oliveira, normalmente aparecem cinco anos após a plantação. Este azeite ajuda a prevenir doenças cardiovasculares. Contribui para reduzir o nível de colesterol, favorece a fixação de minerais no organismo, estimula o crescimento e a absorção de cálcio.
Há como resistir a este alimento maravilhoso que, além de ser tão benéfico ao nosso organismo, nos imprime sensações inesquecíveis? Há como não cerrar as pálpebras e inflar o peito para inspirar o aroma poético do azeite?
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