Os alimentos não são, para mim, um instrumento saciador de “fome” ou repositor de nutrientes. Os alimentos me atraem pela sua indescritível capacidade de causar as mais diversas e intensas sensações, e antes do paladar vem o aroma que deles se desprende!
O olfato é o sentido que primeiro desperta a nossa memória e exalta em nós o resgate de emoções.
Quem resiste ao vermelho polido do fruto de uma plantinha que pertence à espécie Capsicum? Eu não resisto! Esses frutos assumem várias formas (do alongado ao arredondado) e cores (do alaranjado ao vermelho rubi), e o sabor transita entre o doce agreste e o exultante picante. O aroma nem sempre se expõe plenamente na sua casca, portanto, a pimenta inteira é apenas um convite a abri-la a explorá-la. É no interior que se exacerba toda a sua essência e o perfume nos contagia, ao ponto de ativar as nossas glândulas gustativas e produção de saliva que, se prepara e quase suplica para saboreá-la.
Mas quando as sementes se despem da polpa e se dispersam, esfuziantes, pela minha boca, um sopro ardente inicia o ballet que me visita a garganta, transpira em meus olhos e aquece-me a pele enquanto me queima a alma.
Cresci em solo africano, chamando-a de piripiri ou de malagueta e namorando-a durante o manuseio pelas mãos negras de Nina. Mãos fortes e suaves que conversavam com os alimentos com delicadeza semelhante à que me afagava o rosto. Mãos que deslizavam pela pele do frango, espalhando nela a pimenta amassada na ponta dos dedos. O aroma invadia a cozinha e, no calor do forno ia, aos poucos, tomando conta da casa, atrevendo-se pela rua.
A ardência da pimenta temperou com doçura momentos da minha infância!
Nenhum comentário:
Postar um comentário